teresa projecto

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Olá. A era dos blogs terminou (apesar de raras e preciosas excepções, como foi o caso de Mark Fisher). Os textos longos e talvez tudo o que seja lento está aparentemente morto e enterrado. Não há tempo. Não há espaço. Não há dinheiro. É preciso aparecer, ser notado, ter um estilo, declarar. Contra essas evidências, este é um lugar que responde apesar de tudo a uma pulsão de escrita que não coube, que não cabe noutros lugares, e que procura ser comprometido sem fazer compromissos.

Copiei em tempos (à maneira das boas cópias) uma amiga, na criação de um diário mensal para o atelier. A mesma amiga escreveu, um dia, (parafraseio) que o atelier pode ser, aquém e além de um espaço físico, um lugar amplo, interior, o rasto dos dias na modelação íntima de nós e do mundo, indistintamente. Como um diário estendido, acolhendo a vida e alargando-se sobre ela.

Habito demoradamente a tensão entre um gesto comprometido com o mundo e o labor de uma intimidade. Escrevi muita filosofia herdada sem tempo nem recursos para eleger essa escrita. Escavo o intervalo desses diferendos no acumulo dos cadernos, e também aqui: o momento em que escolhemos uma caneta para escrever qualquer coisa, e escolhemos, sem qualquer critério a não ser a nossa intuição, a cor da caneta.

As aparências enterraram a lentidão e a demora, mas atrás das máscaras sempre houve e ainda há tempo, dentro dos corpos sempre houve e ainda há espaço — e o dinheiro sabemos que existe e não existe, dentro e fora das representações, como todos os fetiches materializados. Alguns continentais acharam que era preciso desaparecer, passar despercebido, ser neutro, silenciar-se. Contra essas evidências, este é um lugar que responde, apesar de tudo, a uma pulsão que não coube nem cabe no intervalo que continuamente separa e faz diferir estas declarações.

 

Porto, 9 de Fevereiro de 2025